Por Fernando - A antítese do amor: um manifesto sobre o educar para reconhecer gente como gente
- Fernando Puertas
- 18 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de ago.

O ser humano não nasce pronto. A gente se faz no encontro. E talvez seja aí que reside a essência da educação: na possibilidade de nos tornarmos, juntos, aquilo que ainda não somos. Não se trata de formar profissionais, nem de ensinar conteúdos isolados. Trata-se de formar humanos — e isso, hoje, é um ato radical.
Vivemos em tempos de esgotamento. A lógica do desempenho nos sequestrou. O cansaço virou moeda, a produtividade virou métrica de valor, e a educação foi arrastada para esse redemoinho. Ensina-se para competir, para acumular, para vencer. Mas vencer o quê? E a quem? O amor — esse componente biológico, ancestral e essencial da vida — foi reduzido à fraqueza. E sem amor, não há educação possível.
Educar é um gesto de amor porque exige o reconhecimento do outro como sujeito. Como alguém como eu. Como gente. E é a partir desse reconhecimento que construímos a linguagem, a cultura, o conhecimento. A educação em ciências, quando viva, quando liberta do funcionalismo tecnicista, é a chave para compreender o mundo e a vida de maneira profunda, sensível e integrada. É o caminho para que cada um entenda sua existência não como um dado, mas como uma construção coletiva, biológica, social e histórica.
Mas hoje, tudo parece operar na antítese do amor. A educação virou serviço. Os corpos são moldados para se encaixarem em engrenagens que não construímos. As escolas, universidades e instituições foram capturadas por uma lógica de eficiência que apaga o sujeito. A ciência se distancia da vida, e a vida se esvazia de sentido.
Contra isso, a educação precisa voltar a ser um espaço de sonho. Espaço de formação do ser que sente, pensa, age, se contradiz e aprende com o outro. A formação humana passa por recuperar o tempo da conversa, da escuta, do cuidado, do encontro. Passa por devolver ao conhecimento o seu papel de ferramenta para a liberdade, não de arma para a competição.
A educação em ciências pode ser tudo isso. Pode ajudar a formar seres autônomos, que compreendem os sistemas vivos porque fazem parte deles. Que entendem a complexidade do mundo sem se render à simplicidade dos diagnósticos prontos. Que reconhecem a si mesmos na diversidade do outro.
Essa é a educação que eu desejo. Não uma que forme máquinas, mas uma que ajude a formar gente. Gente com coragem de sentir. Gente com coragem de ser. Porque no fim, ser humano é isso: estar em relação. E educar, hoje, é o nosso maior ato de resistência contra a barbárie do isolamento.
Por Fernando Puertas - @fhpuertas
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